Mortes de indígenas idosos por Covid-19 colocam em risco tradições dos povos

Festas tradicionais, tatuagens históricas e até mesmo línguas indígenas podem se perder de forma definitiva com mortes de idosos em algumas aldeias. Até agora, 453 indígenas já morreram em decorrência da Covid-19, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A pandemia de Covid-19 mata mais os idosos, e são eles a fonte histórica dos indígenas brasileiros. Os anciãos, que ensinam os mais jovens, correm risco de morrer ou já foram perdidos para a doença, sem ter tempo de passar as tradições aos mais novos.

Os antigos Guajajara, no Maranhão, cantam os rituais. Na aldeia dos karipuna, em Rondônia, Katica e Aripã têm as tatuagens tradicionais e mantêm a língua tupi-kawahib. Mais de 200 línguas indígenas são faladas no Brasil, muitas em preservação pelos mais velhos.

Guajajaras contam com festas para manter a tradição. Karipunas têm tatuagens históricas que podem se perder. No Rio Negro, um ilustrador da história local morre devido ao novo coronavírus.

Já são 187 mortes até a última quinta-feira (09/07), de acordo com a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde. O levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) aponta 453 mortos. Não há consenso também sobre o número geral de vítimas da doença.

Sônia Guajajara, líder indígena e coordenadora da Apib, vê um processo parecido no Maranhão. Os idosos morrem e levam o que sabem, diz ela. A doença já chegou em territórios próximos a povos isolados: Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá; terra indígena Momoadate, no Acre; Vale do Javari, no Amazonas. São mais de 300 povos no Brasil e 200 línguas que correm risco de desaparecer.

Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro vetou, entre outras coisas, a obrigação do governo federal de dar água potável e cestas básicas aos indígenas.


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