Agricultores familiares não conseguem obter auxílio emergencial

Por Maísa Lima (CUT Goiás)

 

A agricultora familiar Eliene da Rocha Silva, 48 anos e mãe de três filhos, conquistou sua parcela de terra no Assentamento Padre Hilgo, criado em 2007 e localizado no município de Caiapônia, distante 412 quilômetros de Goiânia (GO). Lá, ela e mais de outras 100 famílias plantam hortaliças e criam pequenos animais que eram vendidos nas feiras livres da região.

Mais aí veio a pandemia do novo coronavírus, as feiras livres foram suspensas e com elas o ganha pão de Eliene. Ela então, como tantos outros brasileiros e brasileiras, cadastrou-se para receber o auxílio emergencial de R$ 600 (R$ 1,200 para mães chefes de família), aprovado pelo Congresso Nacional para ser pago pelo governo federal. Só que a agricultora familiar já deu inúmeras pernadas até a Caixa Econômica Federal de Iporá, quando deveria estar em isolamento social, e não consegue acessar o benefício.

“Primeiro me disseram que eu estava ligada ao RPPS (Regime de Previdência dos Servidores Públicos). Eu nem sei o que é isso. Depois alegaram que eu trabalho em órgão público e eu trabalho na roça. Nunca fui ligada a nenhum órgão público. Agora, dessa última vez, me disseram que meu CPF não consta na Caixa. E eu fui ver e estava tudo normal”, narra Eliene, que reclama ter sido maltratada na agência de Iporá.

Como o dinheiro não chega e as contas vão se acumulando, não restou outra saída que colocar o motor que bombeia água do poço à venda. Vai fazer muita falta. “Mas o que eu posso fazer? Por minha causa os meus filhos também não conseguem o auxílio emergencial”, desespera-se.

Emergência no campo
A situação de Eliene não é um caso isolado. Gerailton Ferreira, dirigente da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Estado de Goiás (Fetraf-GO) disse que muitos agricultores estão tendo o benefício negado sem justificativa plausível. “Estamos tentando entender o que está acontecendo. Não só precisamos manter a família, como continuar produzindo comida de qualidade para a mesa dos brasileiros”, pontuou. Não custa lembrar que a agricultura familiar responde por cerca de 70% dos alimentos que consumimos.

Outros problemas afligem os agricultores familiares. Um deles diz respeitos à educação das crianças e adolescentes. Ora, se nas cidades o acesso à internet é difícil para muitos alunos e alunas, imagine na roça! “É um desafio. Principalmente para a alfabetização. Os próprios pais estão tentando ensinar os filhos. Os gestores deveriam garantir internet gratuita em qualquer casa que tivesse um estudante”, sugere.

Enquanto isso tudo acontece, o governo federal deve anunciar neste mês de junho o Plano Safra 2020/21. Ainda no campo da especulação, fontes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sugerem taxa de juros para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) em torno de 3% a 4% ao ano. “Estamos muito preocupados. Precisamos de juros mais em conta, para que possamos continuar produzindo alimentos a preços acessíveis para todos”, reforça Gerailton.

Embora poucas comunidades de assentamentos rurais contem com agentes de saúde em Goiás, até agora, até pelo isolamento natural do campo, a Fetraf-GO não tem informação de agricultores familiares contaminados pelo Covid. Por isso a federação reforça a importância de que todos fiquem em casa e tomem as precauções necessárias para manter a saúde.


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