NOTA DA COMUNIDADE DO NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS DA UFPA SOBRE A CONJUNTURA POLÍTICA DO BRASIL
Nós – docentes, técnicos, estudantes e bolsistas do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, da Universidade Federal do Pará – nos solidarizamos e engajamos na defesa da democracia, do Estado de Direito e, principalmente, na defesa da vida e de todas as formas de ser e viver na Amazônia, que reconhecemos estar sob ameaça real neste momento.
Nas vésperas do pleito em que está sendo decidido nosso próprio direito de decidir e, também, de exercer nossas funções e vocações pedagógicas e administrativas, como fim e como meio, de passar informação embasada em pesquisa, construir pensamento coletivo, crítico e autônomo sobre a Região Amazônica, expressamos nosso compromisso de resistir nas urnas, e para além delas, para continuarmos existindo. Esta existência está pautada na formação de quadros para pensar e viver a Amazônia em toda sua diversidade, nas suas estratégias de desenvolvimento e sobrevivência em cada canto, em cada rio, com a qual só podemos continuar colaborando, e apreendendo sua complexidade, se tivermos liberdade do pensar, do agir e do ensinar.
Mais ainda, para garantirmos a diversidade de pensamento, refletida na variedade dos quadros que formamos, precisamos que este espaço continue público, de livre acesso, aberto a todos e todas, sem distinção de classe, raça, gênero ou etnia. Defendemos, assim, a pós-graduação pública como instrumento de transformação social, bem como mecanismo participativo de construção de desenvolvimento inclusivo para os povos da Amazônia, processo que pensamos estar em xeque se vencer a extrema direita no pleito eleitoral. Esse grupo não hesita em desqualificar a universidade pública e, especialmente, a pós-graduação e seus investimentos em pesquisa na forma de bolsas pagas aos docentes, como gastos desnecessários e como veículos de propagação ideológica, que não oferecem contribuição científica, tampouco possuem eficácia administrativa. Por isso, eles defendem de modo veemente a nossa morte sob a modalidade da privatização da universidade, desqualificando os professores. Atacam-nos com ódio, pois, não aceitam que este espaço seja meio e fim de transformação social profunda.
Por isso mesmo, não podemos aceitar as ideias e os projetos que desafiam e questionam o papel essencial da universidade autônoma e pública como veículo de promoção de bases de equidade para todos e todas se desenvolverem em seus próprios termos. Não podemos aceitar a condição de objeto de controle e espaço permanente de exceção a que relegam a Amazônia, onde tudo pode ser permitido com os fins de um desenvolvimento baseado no ódio, na exclusão e na hierarquização autoritária que sugere banir e desautorizar direitos já constituídos.
Na defesa da educação pública de qualidade na Amazônia, para todos os seus povos e cidadãos, dizemos não à truculência e ao ódio às diferenças, bem como ao ódio à natureza e seus povos. Dizemos não ao autoritarismo. Dizemos sim à democracia e à liberdade profunda de viver com e nas diferenças, práticas essenciais à democracia e ao planejamento, bem como à concepção de projetos políticos que possam abarcar e coordenar todos os projetos de vida e mundo possíveis. Sim à universidade! Sim aos povos da Amazônia! Sim à vida!
Belém, Pará, 25 de outubro de 2018.
Adagenor Lobato Ribeiro; Ágatha Aleixo; Ágila Flaviana Chaves Rodrigues; Albano Rita Gomes; Ana Carolina Barbosa de Lima; Anderson Coelho Borges; Andreia Anschau; Angelo Cezar Pinho Tavares; Armin Mathis; Aurilene Ferreira Martins; Brenda Batista Cirilo; Brenda Cordovil Correa dos Santo; Bruno Soeiro Vieira; Carmen Dilcely dos Santos; Carolina Buchacra; Carolina Maués, Danusa Rocha; Diogo Luan Uchôa da Luz; Durbens Martins Nascimento; Edna Castro; Edson Louzada; Eliana Machado Schuber; Elysangela Sousa Pinheiro; Eryck Baralha; Gabriel Leite; Fábio Fonseca de Castro; Fernanda Moreira; Guilherme Guerreiro Neto; Helbert Michel Oliveira; Igor Monteiro; José Maria Zehma Reis; José Batista Santana; Josimar Freitas; Juarez Pezzuti; Klycia de Souza Vilhena; Leildo Dias Silva; Lidiane Souza Silva; Lígia Simonian; Liliane Ferreira do Rosário; Luiz Marcelo da Silva Barbosa; Marcela Vecchione; Maria da Paz; Maria do Socorro Albuquerque; Marilena Loureiro; Marinete Silva Boulhosa; Marlon D’Oliveira Castro; Mayara Suellen Costa Bessa; Michel Lima; Mirleide Chaar Bahia; Neila Cabral; Nelson Duarte Faro; Nírvia Ravena; Olavo Fagundes; Oriana Almeida; Patrícia de Macedo Silva dos Reis; Paulo Olivio Correa de Aquino Júnior; Rafaela Carneiro; Ricardo Theophilo Folhes; Rayanne de Souza Carvalho; Rosângela Mourão; Roseany Caxias; Rosa Acevedo Marín; Rodrigo Saraiva da Silva; Roger Brito Hofstatter; Sabrina Mesquita do Nascimento; Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior; Samara Avelino de Souza França; Sílvia Baena; Silvia Nunes Ferreira; Lucila Vilar; Silvio José de Lima Figueiredo; Simaia do Socorro Sales das Mercês; Solange Gayoso; Suelem Cardoso; Suzy Brito Sousa; Tássia Cristina Barros; Tássia Tamyres dos Anjos Curcino; Thamires Santos; Thiago Alan Guedes Sabino; Tiago Veloso dos Santos; Vitoria Mendes Alves; e Wellington Fernandes.