Metalúrgicos de SP fazem ato em memória de Santo Dias, morto há 40 anos pela ditadura

Juca Guimarães

Brasil de Fato | São Paulo (SP)

Trabalhador foi morto por um policial militar quando participava de um piquete de greve, em 1979

Representantes de dez centrais sindicais e de movimentos populares realizaram na tarde desta segunda-feira (28), no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, um ato em memória do metalúrgico Santo Dias da Silva, assassinado há 40 anos pela ditadura militar. O trabalhador foi atingido por um tiro, disparado por um policial militar, em 30 de outubro de 1979, durante um piquete de greve na fábrica Sylvania m Santo Amaro, na zona sul de São Paulo (SP).

A morte de Santo Dias virou um símbolo da luta pelos direitos trabalhistas e contra a ditadura. Quarenta anos depois, o legado de Santo Dias foi lembrado por trabalhadores que seguem em resistência contra os retrocessos de direitos promovidos pelos governos Temer (MDB) e Bolsonaro (PSL).

“Mais de 400 trabalhadores foram mortos pela ditadura. Se somar os sem-terra e os indígenas, são mais de 2 mil. Eu não imaginava que isso pudesse voltar. Temos que chamar atenção para o que está acontecendo no Brasil novamente. É o desmonte da legislação trabalhista”, disse Sérgio Nobre, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

“Santo Dias era o único negro no piquete. A polícia chegou e dispersou os trabalhadores. Todos correram. Um policial me deu uma rasteira e cai no chão. Ouvi um tiro. Era o meu amigo sendo assassinado”, relatou ex-metalúgico Vicente Garcia.

Filho de lavradores, Santo Dias era uma referência não só no movimento sindical, mas também da pastoral operária da Igreja Católica, e frequentou como leigo reuniões da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

No dia seguinte à morte do metalúrgico, uma passeata com 30 mil pessoas saiu da zona oeste até a praça da Sé, na região central, com uma faixa negra de luto e palavras de ordem contra a ditadura e a repressão policial.

“É um momento de se inspirar em Santo Dias e manter a luta. Não abrir mão dos direitos e lembrar que 13º salário, por férias, por participação nos lucros e outros benefícios foram conquistados com a morte e a resistência dos trabalhadores”, disse João Carlos Juruna, secretário-geral da Força Sindical.

Ana Dias, viúva de Santo, enviou uma nota para ser lida no ato e afirmou: “A luta continua”. Ela ajudou a organizar as atividades do Comitê Santo Dias, em homenagem ao seu companheiro, entre elas o relançamento do livro “Santo Dias, quando o passado se transforma em luta”, pela Expressão Popular e pela Perseu Abramo, escrito por Jô Azevedo, Luciana Dias e Nair Benedicto. O metalúrgico também é lembrado no álbum “Santo Dias”, do grupo Arribação, que conta com um depoimento da viúva.


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