Há 13 anos, em São Gabriel (RS), onde Sepé Tiarajú foi morto em combate, nascia o Levante da Juventude

Por Ronaldo de Souza Schaeffer – publicado no Brasil de Fato RS

Há 13 anos atrás, estávamos acampados em São Gabriel (RS), e no final da tarde fomos até a coxilha do Caiboaté, o local onde Sepé Tiarajú foi morto em combate 250 anos antes. Éramos jovens camponeses e urbanos. Lá, um grupo de indígenas guaranis de toda a América Latina nos deu a terra do lugar em pequenas porções, dançaram e comungaram. O clima que estava como o de hoje, escaldante e quente, mudou repentinamente. Nuvens se moviam pelo céu muito rápido e em alguns minutos despencou aquela chuva forte, pesada que molhou a terra em nossas mãos e fez nascer ali o Levante da Juventude.

Foram dias lindos, as regras que ajudamos a criar para o acampamento, nós mesmos quebrávamos. Andar sem camisa na plenária se tornou uma marca de rebeldia. O rio que era profundo e perigoso substituiu os chuveiros. A plenária pela manhã estava quase sempre vazia. As festas eram de rebentar e os debates não tinham o apelo que estava planejado. Mas então diante dessa bagunça como que o Levante veio a ser o movimento forte e grande que é hoje?

Os companheiros da via campesina que viabilizaram o acampa tinham em mente o central: “canalizar a rebeldia da juventude para as lutas do povo brasileiro”. Dessa forma, naquele dia o espírito da juventude foi solto no campo para que dançasse, amasse e respirasse sob o vento e o solo sagrado das terras onde Sepé lutou sua última batalha. Ao longe, víamos os camponeses disciplinados e calmos em suas plenárias e por vezes passávamos por grupos de guaranis rindo de algo que até hoje não descobri. Esse Espírito, esse ambiente ali despertou forças que foram estruturadas em torno do básico. Bandeiras de luta, debatidas e organizadas, um grupo inicial de agitadores, um grupo de quadros mais experientes para acompanhar e uma identidade, um nome, um simbolo ao qual passamos a construir o significado.

De lá para cá, importamos o método camponês de se organizar para a cidade e para o meio da juventude, enfrentando assim o pós-modernismo em nossas fileiras. Nos aproximamos dos anarquistas e absorvemos seu método de agitação e propaganda, tão eficaz no mundo urbano. Da igreja, através da Pastoral da Juventude Rural (PJR), herdamos a mística e a humildade em sempre estar a “serviço da juventude” e do campo político como um todo, nos filiamos aos que querem construir o Popular Para o Brasil.

Aquela chuva que caiu há 13 anos cultivou a terra em nossas mãos e deu de beber a nossos corações que estavam sedentos por um sonho, uma utopia. A lenda de Sepé ali ganhou nova força, pulsa nos corações de todos aqueles que sonham com um mundo mais justo e ganha vida nos braços dos jovens que constroem esse grande movimento. Levante-se e sonhe também.

Viva o Levante da Juventude!!!

Edição: Marcelo Ferreira


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