Grito da Amazônia
[Por Rogério Almeida]
A década de 1980 é considerada a mais sangrenta na história da luta pela terra do Brasil. E, no coração da Amazônia, o sudeste paraense, o mais temoroso. Dias de ditadura. Nesta quebrada, desprovidos de recursos, abnegados agentes pastorais e posseiros produziram um boletim denominado Grito da PA-150. Em uma de suas derradeiras edições, a de nº 32, de janeiro de 1985, catei fragmentos do editorial, pra modo de animar os espíritos.
“O Grito da PA 150 é a explosão do grito abafado do nosso povo. É o grito na escuridão quando tudo parece sem saída. É o grito de alerta às consciências retas que ainda restam nessa terra. É o grito dos doentes que não podem mais gritar. É o grito das professoras com o salário sempre atrasado e com as bocadas tapadas pelas ameaças ou pelos bombons. É o grito dos posseiros que teimam em permanecer em suas terras resistindo contra todas as ameaças. É grito das mães com seus filhos nos braços. É o grito dos peões das serrarias, escravos da ganância. É o grito do povo das matas que gritam por estradas. É p grito das lavadeiras que lavam a sujeira e ganham mixaria. É o grito dos comerciários que não tem direito de um dia de domingo de repouso semanal por causa da gula dos comerciantes. É o grito dos trabalhadores que são explorados a cada dia. Enfim, é o grito de todo um povo que sofre as humilhações e a exploração de todo tipo. É o grito de chega de tanta mentira e falsidade desse poder público podre de corrupção. É preciso gritar, gritar alto, gritar juntos, gritar de peito aberto, gritar sem parar até o último de suspiro de vida. É melhor morrer gritando do que morrer calado no silêncio da covardia.”