Cidades do interior do RS se tornam reféns de criminosos do Novo Cangaço
[UGEIRM Sindicato]
Quando falamos do interior do estado, a primeira imagem que visualizamos é a de uma praça bem cuidada, com pessoas reunidas e uma tranquilidade e segurança que não encontramos nas Capitais e nos grandes centros urbanos. Essa realidade, hoje, não passa de uma vaga lembrança em nossa memória. No lugar da tranquilidade e da segurança, as imagens que nos chegam são de pessoas amarradas, servindo de escudo humano para assaltantes de banco, agências bancárias explodidas por quadrilhas fortemente armadas e policiais colocando suas vidas em risco para tentar proteger a população.
Essa modalidade de crime já ficou conhecida como Novo Cangaço. Nela, um bando de criminosos, fortemente armados, invade cidades do interior para assaltar as agências bancárias. Durante a ação, os assaltantes tomam pessoas como reféns, para servirem de escudo humano, e atacam as delegacias e quartéis da Brigada Militar, evitando, assim, a reação das forças de segurança. Em 2017 foram quase 70 assaltos a bancos no estado. Desses, grande parte ocorreu em cidades do interior do Rio Grande do Sul.
Cordão humano foi usado por bandidos em Entre Rios do Sul
A cidade de Entre Rios do Sul foi a vítima mais recente do Novo Cangaço gaúcho. No dia 30 de agosto, a população do município viveu horas de terror em plena luz do dia. Um bando armado invadiu a cidade para assaltar as agências do Sicredi e do Banrisul. O Modus Operandi foi o de sempre, as agências foram explodidas e os moradores foram feitos de reféns e obrigados a formar um cordão humano, impedindo qualquer reação da polícia. A cidade conta com dois policiais militares e apenas uma policial civil. Esses profissionais se sentem completamente incapacitados para qualquer reação.
Canguçu já foi vítima de três assaltos a bancos em 2018
A cidade de Canguçu viveu essa experiência por três vezes nesse ano. Em todas elas, o roteiro foi o mesmo: explosão de agências bancárias, população como refém e ataques à polícia. No ataque mais recente, no início de agosto, o policial civil Paulo Lourenço foi atingido no ombro, com um tiro de fuzil, pelos bandidos que haviam explodido e assaltado a agência da Caixa Econômica Federal do município. Após uma longa espera e um atendimento médico, no mínimo, deficiente, Paulo foi submetido a uma cirurgia e se encontra em recuperação, sem saber ainda se vão ser necessários outros procedimentos cirúrgicos para recuperar os movimentos do braço.
O caso de Paulo Lourenço evidencia a falta, por parte do governo do estado, de um protocolo para atendimento de policiais feridos em ação. Paulo, após longa espera, teve que pagar sua própria remoção para a Santa Casa e, também, teve que arcar com os custos do anestesista que trabalhou na sua cirurgia. Provavelmente, a próxima etapa do seu tratamento também terá que ser feita com os seus próprios recursos.
Casos se multiplicaram no último período
As estatísticas da Secretaria de Segurança Pública, infelizmente, não registram especificamente os ataques às agências bancárias. Por isso, não temos números exatos dos crimes cometidos nesse ano. Porém, um breve levantamento de notícias dos meios de comunicação, nos dão uma noção da gravidade do problema. Abaixo, listamos alguns casos recentes, ocorridos no interior do estado nos últimos dois meses.
05/JULHO – Jaquirana – Assaltantes fizeram um cordão humano com moradores do município da Serra durante o roubo a dois bancos, uma lotérica e um posto de combustíveis. Primeiro, ocorreram os ataques ao Banco do Brasil e Banrisul. Depois, arrombaram os estabelecimentos, que estavam fechados devido aos assaltos. Na fuga, os assaltantes levaram dois reféns, libertados em seguida.
05/JULHO – Canguçu – Quatro criminosos explodiram o Banco do Brasil, durante um apagão na energia elétrica. Na ação, assaltaram um caminhão, incendiaram e atravessaram o veículo na BR-392, para evitar chegada de reforço policial. No quartel da BM espalharam pregos retorcidos para furar pneus das viaturas.
05/JULHO – Maximiliano de Almeida – Bandidos atacaram a agência do Banco do Brasil do município, no norte do Estado. Eles espalharam miguelitos no trajeto. Os criminosos atiraram nos vidros da agência, utilizando espingardas calibre 12. Eles invadiram o local, mas não conseguiram roubar o dinheiro dos caixas e do cofre.
06/JULHO – Novo Hamburgo – Três criminosos armados com pistolas e fuzil invadiram uma agência do Santander, na esquina da Avenida Pedro Adams Filho com a Rua Joaquim Nabuco, no centro da cidade. O grupo rendeu funcionários e clientes que aguardavam atendimento e, em seguida, recolheu o dinheiro dos caixas. Trocaram tiros com guardas municipais.
06/JULHO – Boa Vista do Incra – Quatro homens armados participaram da explosão de uma agência do Banrisul no Noroeste. A cidade com 2,5 mil habitantes estaria sem policiamento no momento do fato. Os ladrões teriam conseguido levar dinheiro de apenas um dos terminais. Os bandidos fugiram por estradas vicinais da região e teriam jogado miguelitos (pregos retorcidos) na BR-158. Um veículo da BM e um caminhão tiveram pneus furados.
09/AGOSTO – Dilermando Aguiar – Quatro homens fortemente armados, explodiram uma agência do Banrisul na cidade. Após o assalto, os bandidos conseguiram fugiram antes da chegada da polícia.
14/AGOSTO – Vila Nova do Sul – Criminosos utilizaram explosivos para atacar as agências do Banco do Brasil e do Banrisul na cidade. Na fuga, a quadrilha abordou um ônibus na BR 290 e fizeram o motorista refém. O coletivo foi atravessado na pista para facilitar a escapada dos criminosos e evitar uma eventual perseguição policial.
Novo Cangaço é fruto da falta de política de segurança do governo Sartori/MDB
A situação alarmante das cidades do interior gaúcho não é um acaso. Ela é fruto da total falta de política de segurança do governo do estado. Ao agir ao sabor do vento e das notícias da mídia, Sartori e seu Secretário de Segurança Pública pioram cada vez mais a situação do estado.
Quando os índices de violência na capital começaram a manchar a imagem do governo, a primeira medida tomada pelo governo foi o deslocamento das forças policiais das cidades do interior para a capital. Afinal, aqui estão os principais meios de comunicação e a repercussão de um assalto a banco em Porto Alegre é muito maior do que em Canguçu. Infelizmente, a criminalidade não se guia pela repercussão na mídia e aproveitou uma “janela de oportunidades”. Com a diminuição acentuada do efetivo policial nas cidades pequenas, a população do interior virou presa fácil para os bandos armados, que assaltam bancos como se tomassem doce de uma criança.
O mais grave é que essa situação cria um ciclo vicioso. Os assaltos a bancos servem para capitalizar o crime organizado. Capitalizado, o crime organizado compra armamentos cada vez mais sofisticados e se tornam ainda mais perigosos e eficientes. Essas quadrilhas, mais capacitadas, aumentam ainda mais sua área de atuação. Em breve estarão atacando grandes cidades e centros urbanos. Quando isso acontecer, talvez o governo do estado tome alguma providência.
Bancos também são responsáveis pela situação
O governo do estado não é o único omisso, os próprios bancos têm sua parcela de responsabilidade. Esse setor, que é o que mais lucra no país, sempre impôs forte resistência a adotar normas básicas de segurança nas suas agências. O resultado é que se tornam alvo fácil para os bandidos, colocando a população e seus funcionários em risco. É necessário que o Ministério Público obrigue os banqueiros a estabelecerem planos eficientes de segurança, com os custos bancados por eles mesmos. Não se pode admitir que a população e a polícia arquem com a segurança de um setor que lucrou mais de R$ 60 bilhões em 2017.
Investimento na Polícia Civil é a melhor maneira de enfrentar o Novo Cangaço
A única forma de barrar essa espiral de violência, é tendo política de segurança e investindo na polícia investigativa, que é a melhor maneira de desbaratar essas quadrilhas. Porém, esse tipo de investimento não rende votos nas eleições. O trabalho de investigação é um serviço silencioso, que não produz fotos espetaculares e nem aparece para a população. Também não rende grande número de prisões no varejo, para alimentar as estatísticas do governo. Porém, é o único capaz de atingir diretamente as lideranças dos bandos armados que têm aterrorizado as cidades do interior gaúcho, desarticulando-os e diminuindo seu poder de fogo.
Hoje, a polícia civil está completamente desestruturada. O efetivo é o menor da história. Pela primeira vez temos menos de cinco mil policiais civis no nosso estado. A quantidade de delegacias do interior com apenas um policial chega a mais de 70. A primeira medida é a recomposição do quadro da nossa polícia investigativa e a sua reestruturação. Paralelo a isso, é necessário o estabelecimento de uma política clara de segurança pública, com prioridades e medidas de curto, médio e longo prazo.
A população não pode mais ficar refém de bandidos, enquanto o governo faz propaganda enganosa, tentando convencer que tem o controle da situação. A realidade do povo gaúcho é a que aparece na foto que ilustra esse texto. Cidadãos e cidadãs servindo de escudo humano para bandidos, enquanto policiais são baleados tentando proteger a população. Enquanto isso, na propaganda eleitoral o governador diz que a segurança pública é a principal realização do seu governo. Será que ele está certo?