Assentados e apoiadores comemoraram os 40 anos das ocupações Macali e Brilhante

Trabalhadores que apoiaram as famílias foram homenageados durante a festa / Foto: Catiana de Medeiros

Página do MST – A região Norte do Rio Grande do Sul é conhecida por lutas históricas pela conquista da terra. As ocupações Macali e Brilhante têm um papel importante nesse contexto. Ainda em tempos de ditadura militar, famílias que tinham sido expulsas das terras indígenas de Nonoai deram o primeiro passo para o recomeço das mobilizações sociais depois de muita repressão. Por isso, essas duas comunidades juntamente com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), reuniram em uma festa aqueles que fizeram parte desse marco.

Os assentados e apoiadores comemoraram os 40 anos de ocupação das glebas Macali e Brilhante na comunidade Macali II, em Ronda Alta, na região Norte gaúcha, no último dia 7 de setembro. As festividades, que reuniram cerca de 1000 pessoas, iniciaram com uma mística que lembrou a história das ocupações e também homenageou as famílias assentadas nas glebas e aliados da época. Ao meio dia teve almoço, seguido de tribuna popular e reunião dançante.

Mística contou a história das ocupações | Foto: Leandro Molina

A retomada da luta pela terra 

Em 1979, as famílias remanescentes das terras indígenas de Nonoai começaram a se organizar para ocupar as fazendas Macali e Brilhante. Essas glebas possuíam contrato irregular com o Estado, pois eram terras públicas e não poderiam ser arrendadas.

Depois de algumas ocupações mal sucedidas, com o auxílio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de sindicatos, estudantes, servidores públicos da Secretaria de Agricultura, entre outras entidades, os camponeses passam a se organizar para uma ação na Macali. Na madrugada do dia 6 para o dia 7 de setembro daquele ano, 110 famílias ocuparam a fazenda. Já dia 25 de setembro, outro grupo, de cerca de 70 camponeses, ocupou as terras da Brilhante. Inicia-se aí a retomada da luta pela terra no Brasil.

Dusnelda Pinheiro, assentada na Macali, se lembra da época com carinho. Apesar do sofrimento, de ter sido expulsa das terras indígenas junto com seu marido Lauro Pinheiro, o casal foi em busca de soluções. “Nós estávamos em quatro famílias junto com o sogro. O meu marido começou a participar das reuniões para a ocupação e se organizar”, conta.

Dusnelda é assentada na Macali | Foto: Catiana de Medeiros

A camponesa ainda fala sobre o papel das mulheres para o sucesso da ocupação na Macali. “Chegaram os policiais e nos disseram: vocês têm 24 horas para saírem daqui, para desocupar. E aí nós mulheres falamos: nós não temos para onde ir, não vamos desocupar”, recorda. Ela salienta que essa decisão de enfrentar os militares foi tomada porque sabiam da força das mulheres.

Já o assentado da comunidade Brilhante, Anoldo Gonçalves Vieira, relata sobre a sua participação na ocupação. “A gente sabia que era um latifúndio as terras do Dalmolin e o que ele pagava pelo arrendamento naquela época era uma vergonha. Então a luta foi assim: nós ficamos um ano acampados, fizemos lavourão, para depois pegar a terra. E estamos hoje comemorando os 40 anos da Macali e Brilhante. Aqui comida nós temos, deu para criar os filhos, deu para dar um estudo. Então se Deus quiser, até morrer nós estamos aí”, declara.

Sua companheira Dineta Portilioti Vieira comenta sobre o sentimento de comemorar as quatro décadas de ocupação. “Estamos muito feliz com essa conquista. A luta foi de fé, de ânimo, de coragem nossa e dos companheiros. Para nós foi uma conquista de muita garra”, salienta.

A importância das ocupações

Anoldo e Dineta Vieira fizeram parte dessa luta e foram assentados na Brilhante | Foto: Catiana de Medeiros

Para Isaías Vedovatto, dirigente estadual do MST/RS, é imprescindível festejar os 40 anos de conquista. “Essa comemoração é importante para voltarmos para trás e olharmos na história, para poder agir, retomar, reanimar, para seguir em frente em um processo de organização, de luta, de mobilização”, declara.

Cleto dos Santos foi um dos homenageados na festa por ser um dos apoiadores das ocupações Macali e Brilhante. Em seu discurso, ele reforça o seu posicionamento em relação aos Sem Terra. “Nós, companheiros, somos aqueles que estaremos sempre juntos com os trabalhadores”, acrescenta.

Para João Pedro Stédile, integrante da coordenação nacional do MST, essa é uma história da celebração do povo do RS e do Brasil. “A ocupação da Macali e da Brilhante faz parte da longa história do nosso povo”, pontua.

Ele também destaca que essa luta foi fundamental para todo movimento brasileiro e gerou frutos para a sociedade. Stédile ainda enfatiza a importância daquela região na luta pela terra no país. “Graças essa luta, Ronda Alta se tornou a capital da Reforma Agrária no Brasil”, conclui.

Festa lotou o salão da comunidade Macali II, em Ronda Alta | Foto – Leandro Molina


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