Vila Autódromo e Maré: museus concebidos por moradores são símbolos de resistência
Museu das Remoções e Museu da Maré ajudam a manter vivas memórias de lugares marginalizados pela museologia tradicional
Em maio, dois importantes museus do Rio de Janeiro celebraram suas histórias de luta e resistência. O Museu da Maré, na zona norte do Rio, e o Museu das Remoções, na Vila Autódromo, na zona oeste, buscam manter vivas uma série de memórias que muitas vezes são marginalizadas pela história tradicional.
Neste mês, o Museu da Maré completou 13 anos e recebeu depois de anos de luta a posse definitiva do prédio que ocupa dentro do conjunto de favelas. No dia 18, o Museu das Remoções comemorou três anos de existência, exatamente no Dia Internacional dos Museus. Em entrevista ao Programa Brasil de Fato, o diretor do Museu da Maré, Luiz Antônio de Oliveira, contou sobre o propósito do espaço de cultura.
“A gente tenta fazer um movimento para ir contra as questões que sufocam o morador. O Museu da Maré está aqui para ser um sinal de presença, de vida, de potência cultural. Para a nossa felicidade conseguimos a escritura definitiva do imóvel que ocupamos”, explicou.
Segundo Oliveira, a criação da TV Maré, em parceria com a Cáritas, em 1989, e do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm), em 1997, foram fundamentais para fomentar a fundação do museu em 2006. Essas instituições passaram a questionar os moradores, provocando reflexões sobre o que significava ser morador da Maré. “O museu da Maré, com sua missão de trabalhar com a memória, faz com que o morador se sinta pertencente ao lugar onde ele mora e não passe a reproduzir o preconceito, o estigma que normalmente é imposto, que é dado ao morador que mora na favela. A gente tem que fazer essa mudança de dentro para fora”, contou Oliveira.
Para ele, museus comunitários como o da Maré foram fundamentais para despertar essa mudança nos espaços tradicionais. “Até então a gente tinha essa noção do museu fora das favelas e das periferias, no centro da cidade. Lugares a princípio pouco convidativos, que até hoje são, ainda que tenha uma mudança nisso. Hoje a gente vê que tem muitos museus conhecidos que já tem vários eventos que dialogam com a vida, com as pessoas, com a comunidade do entorno”, disse.
Museu das Remoções
Criado em 2016, o Museu das Remoções surgiu em meio ao processo de remoção da Vila Autódromo, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, para a construção dos aparelhos dos megaeventos, em especial a Olimpíada.
A moradora da Vila Autódromo e articuladora do museu, Sandra Maria, falou sobre as condições que originaram a ideia de criação do museu durante o programa Brasil de Fato. “As casas estavam todas caindo, a comunidade estava em meio a escombros, porque fazia parte da política de remoção implementada pela prefeitura deixar para trás os escombros das casas destruídas. Então a gente vivia em um cenário muito parecido com um pós guerra”, descreveu Sandra.
Ela contou que o museu da Vila Autódromo é um exemplo de espaço de resistência construído baseado em ideias da museologia social. “A existência não só do museu das remoções, mas da museologia social, é uma museologia importantíssima por ser feita pela resistência, nas próprias mãos da população, com um olhar a partir do oprimido, da pessoa que sofre os impactos sociais”, disse.
Na última quinta-feira (18), durante as comemorações do aniversário do museu, os moradores da região e colaboradores da instituição lançaram uma campanha pelo cumprimento do acordo de urbanização da Vila Autódromo, a campanha “Cumprimento do acordo já”. A prefeitura assinou um acordo com o moradores que não aceitaram deixar o local prometendo a reurbanização do local até 2017, mas as obras nunca começaram. Antes do processo de remoções, cerca de 700 famílias residiam no local.
Serviço
O quê? Museu da Maré
Onde? Av. Guilherme Maxwel, 26 – Maré
Funcionamento? Aberto ao público de segunda a sexta-feira, de 9h às 17h e aos sábados, das 10h às 14h.
Contato: (21) 3868-6748
Site: Museu da Maré
Mais notícias de: Brasil de Fato