Preso no final de março, Padre Amaro é ativista da Comissão Pastora da Terra (CPT). Trabalhou com a missionária Dorothy Stang apoiando a luta pela terra na região do Xingu, onde é pároco. Esta é mais uma prisão política ocorrida no Brasil.
Prisão do Padre Amaro: o império da lei há de chegar no coração do Pará?
Por Rogério Almeida (PA), em Furo
Triste constatar que a poética é difícil de se materializar em solo encharcado de sangue de trabalhadores e trabalhadoras rurais, seus apoiadores e simpatizantes. As execuções e chacinas continuam.
Assim como os atentados de toda ordem, via a mão do estado ou dos latifundiários. Ações aditivadas pelo adubo da impunidade e a parcialidade da justiça. O caso recente foi a Chacinade Pau Darco, no mesmo conturbado sudeste paraense. A PM executou 10 trabalhadores rurais em maio de 2017. Não há ninguém preso.
Já na direção em criminalizar a luta pela reforma agrária, meio ambiente e os direitos humanos, o tijolo mais recente na edificação da catedral de injustiças, temos a prisão preventiva do Padre Amaro, ocorrida na cidade de Anapu, no último dia 27, às vésperas da semana santa. Como de praxe, no rosário de acusações constam: formação de quadrilha, esbulho possessório ameaça a ordem, etc.
Amaro é ativista da Comissão Pastora da Terra (CPT). Trabalhou com a missionária Dorothy Stang apoiando a luta pela terra na região do Xingu, onde é pároco.
O caso ocorre no contexto de dias depois da execução da missionária Stang completar 13 anos, e a execução dos militantes do MST, Onalício Araújo Barros e Valentim Silva Serra. Fusquinha e Doutor, respectivamente, como eram conhecidos, somar duas décadas de impunidade. E, o Massacre de Eldorado do Carajás contabilizar 22 anos, no próximo dia 17 de abril.
No contexto de grande avanço do capital sobre as terras e as riquezas da Amazônia, os parcos direitos adquiridos na Constituição Federal de 1988 estão na mira da desregulamentação da pauta do Congresso Nacional, onde a ordem é azeitar a “lei” para facilitar a circulação do grande capital. E, em direção oposta fragilizar a reprodução econômica, cultural, política e social das populações ancestrais.
Neste caleidoscópio de violências, consta ainda um rosário imenso de agentes políticos de toda ordem sendo processados por grandes corporações do quilate da Vale, entre outras, e o próprio estado. Fazendeiros sitiam ocupações. Tocam o terror. Incendiam roçados, disparam tiros, jogam agrotóxico, ameaçam de morte.
Parece que ninguém está a salvo. Vide a truculência ocorrida em Belém, no auditório da UFPA, em novembro do ano passado, quando o prefeito do município de Senador José Porfírio, e Dirceu Biancardi (PSDB) e o deputado estadual Fernando Coimbra (PSD), comandando um grupo de cerca de 30 pessoas, impediram a apresentação de estudos sobre os impactos da mineração na Volta Grande do Xingu.
#PadreAmaroLivre | “Nós iremos até as últimas instâncias para provar que a prisão dele [Padre Amaro] é uma prisão política e que ele precisa ser posto em liberdade”. Confira a análise do advogado da #CPT sobre a criminalização de Padre Amaro:
ACESSE: https://t.co/q1EiVy0nBq pic.twitter.com/KiavSJ27Lm
— CPT Nacional (@cptnacional) 13 de abril de 2018
A pesquisa coordenada pela reconhecida professora Rosa Acevedo Marin sobre a mineração da empresa canadense Belo Sun teve de ser adiada por conta da ação do bando comandado pelos políticos, que mantiveram pesquisadores em cárcere no auditório. Isso, em plena capital do estado, no auditório de uma universidade pública, onde o governador do estado Simão Jatene (PSDB), foi professor.
Diante deste cenário, indaga-se: o império da lei há de chegar no coração do Pará?
O líder comunitário Padre Amaro Lopes, é preso pela polícia civil em Anapu, um dos mais ativos coordenadores da @cptnacional no Pará, defende a Reforma Agrária na região, mesmo projeto que foi defendido por Dorothy Stang, morta em fevereiro de 2005 no PDS Esperança. pic.twitter.com/svZJw5iAIR
— MST Oficial (@MST_Oficial) 27 de março de 2018