Ocupação 29 de Março resiste na mobilização popular

Dois meses depois do incêndio, rede de voluntariado se mantém atuante na reconstrução das moradias e articulação por acesso a políticas públicas nas ocupações. Foto: Bruno Alves / Juventude do MST.

Paula Zarth Padilha/Democracia Popular – Já faz dois meses desde o dia que moradores de quatro ocupações do bairro Cidade Industrial de Curitiba buscaram diversas formas de denunciar ameaças policiais e pediram ajuda na tentativa de que elas não se concretizassem. Mas um incêndio de fato foi provocado, na noite de 07 de dezembro de 2018, e destruiu a Ocupação 29 de Março.

As ameaças de destruição do local também foram acompanhadas de violência, física e psicológica, por parte de policiais, fardados ou não, contra os moradores também das outras três ocupações, Nova Primavera, Tiradentes e Dona Cida. Movidos pela busca do responsável pela morte de um dos membros da corporação, que morreu baleado na noite anterior, na área das ocupações, tudo o que aconteceu naquelas 24 horas, no âmbito de uma operação policial, está sendo investigado pelo Gaeco, órgão do Ministério Público, e pela corregedoria da PM, para apuração das responsabilidades.

Mas, desde o incêndio, os episódios das mortes (além do policial, outros dois moradores morreram), das ameaças e da violência deixaram de ser a única narrativa para contar a história dos moradores das ocupações, que passaram a viver, nesses dois meses, de certa forma integrados às demais famílias curitibanas através de ações de solidariedade pela reconstrução do local.

Na semana do Natal, os moradores já tinham um projeto topográfico, elaborado por estudantes de arquitetura, urbanismo e geografia vinculados às universidades federais UFPR e UTFPR, prevendo espaços públicos, viários, de saneamento. No local, os destroços do incêndio já haviam sido removidos, também por ações de solidariedade e de coletividade por parte das vítimas, e já havia recursos de financiamento coletivo para que a ONG Teto erguesse as primeiras casas. Os moradores já haviam recebido doações de roupas, móveis, alimentos.

Após essa ação de erguer as primeiras casas, a luta urbana ganhou reforço dos movimentos sociais rurais. Militantes da juventude do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que estavam em Curitiba para um curso de formação no espaço Marielle Franco, construído junto à Vigília Lula Livre, promoveram mutirões de solidariedade na 29 de Março. Os militantes realizaram trabalhos de solidariedade na organização de roupas para doações, na reforma no parquinho das crianças, na construção de casas e também na instalação de banheiros e saneamento básico na comunidade. A mais recente atuação do MST nas ocupações foi na última terça-feira, 05 de fevereiro (foto).

Para além das demandas materiais, diversas organizações sociais realizaram ações no local, muitas pessoas circularam por lá, desde representações políticas, mandatários, de órgãos públicos, como a Defensoria e o MP, para promover ações de cidadania, atuando para restabelecer documentações. A Defensoria Pública, por exemplo, realizou uma posse popular dos 15 novos defensores, como forma de integração junto à comunidade. Eles receberam cinzas do incêndio após a solenidade. Atos de solidariedade reuniram os diversos apoiadores, levando também cultura, música e lazer para essa população tão desassistida de acesso a políticas públicas.

Conforme os dias foram passando, a preocupação dos moradores ia além da reconstrução das moradias e das investigações para apuração das responsabilidades. Um ato público com apoiadores foi realizado no dia 20 de janeiro, um domingo. Lá, membros de diversas representações puderam acompanhar relatos dos coordenadores das quatro ocupações, sobre as principais demandas, todas elas relacionadas à falta de políticas públicas no local, e assinar uma carta-compromisso se continuarem presentes na área.

O Instituto Democracia Popular (IDP), que acompanha os moradores das ocupações em processos judiciais de reintegração e articula ações junto ao poder público, foi a primeira entidade convidada a assinar o documento durante o ato, que formou um Comitê de Apoio.

Uma reunião de apoiadores foi realizada no dia 30 de janeiro, como continuidade dos encontros desse comitê, que devem ser mensais. Hoje, além da segurança jurídica da posse, a preocupação mais premente dos moradores locais é o acesso formal à água e à energia nas ocupações. “O IDP já atua na articulação de demandas de políticas públicas e tanto a Defensoria quanto o MP têm se aproximado da comunidade na intenção de promover a cidadania no local”, afirma a advogada Mariana Auler, coordenadora de Direito à Cidade do IDP.

Para quem quiser ajudar, agora em janeiro diversas entidades estão arrecadando material escolar para as crianças das ocupações. Um dos pontos de arrecadação é o escritório verde do campus Curitiba da UTFPR, localizado na Av Silva Jardim, 807.

Instituto Democracia Popular
Foto: Bruno Alves / Juventude do MST

Fonte: http://www.democraciapopular.org.br/noticia/ocupacao-29-de-marco-resiste-na-mobilizacao-popular.


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