4º Encontro Nacional de Agroecologia apresentou denúncias e resistência dos povos que vivem a agroecologia
Encontro aconteceu em Belo Horizonte (MG) e reuniu ativistas do movimento agroecológico dos quatro cantos do Brasil
Por Laudenice Oliveira e Elka Macedo*
Basta adentrar em territórios camponeses, de Norte a Sul do país, para encontrar experiências que são luzes na perspectiva da produção e adoção da agroecologia como forma de vida, bem como forma de enfretamento às mais diversas pressões de grandes empreendimentos e do capital. De um lado, indígenas, quilombolas, agricultores/as familiares, caatingueiros/as, pescadores/as, mostram as diversas formas de conviver nos mais adversos Biomas, com práticas simples e eficazes que combinam o saber popular ao cuidado com o meio ambiente. Do outro, grandes empreiteiras, agronegócio e mineração são exemplos de ameaças que impactam a vida dos povos do campo, das florestas, das águas e das cidades, assim como a nossa biodiversidade.
Pensando em toda diversidade que marca os territórios brasileiros, o IV Encontro Nacional de Agroecologina (IV ENA), realizado pela Articulação Nacional de Agreocologia (ANA), que aconteceu entre os dias 31/05 e 03/06 em Belo Horizonte, MG, pautou cerca de 32 experiências territoriais em agroecologia. Seis Biomas brasileiros Pampa, Caatinga, Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal foram apresentados através de instalações artístico-pedagógicas em 16 tendas, além de espaços para debates sobre o litoral e as metrópoles. O objetivo das instalações foi fazer as denúncias dos impactos causados pelas grandes obras e o agronegócio e mostrar os anúncios das lutas e das conquistas dos povos que praticam a agroecologia em nosso país. A ideia, também, foi de possibilitar a reflexão acerca do papel e da contribuição das redes e articulações para o avanço da agroecologia, bem como reforçar a importância das políticas públicas para o desenvolvimento das experiências agroecológicas e para a defesa e preservação da nossa biodiversidade.
Com o lema Agroecologia e Democracia Unindo Campo e Cidade, o IV ENA reuniu mais de duas mil pessoas no Parque Municipal de Belo Horizonte. Além das tendas com as experiências dos Biomas trazidos pelos territórios, também aconteceram 14 seminários temáticos simultâneos que abordaram as diversas dimensões da agroecologia. Feminismo, agrotóxicos, Juventudes, direito a terra e território, agroecologia e soberania alimentar, água e agroecologia, construção do conhecimento agroecológico, comunicação e cultura, saúde integral e medicina tradicional, foram algumas das temáticas debatidas nos seminários. O resultado das discussões dos seminários, serviram de base para a elaboração da carta política do IV Encontro Nacional de Agroecologia (IV ENA), cujo resumo já pode ser acionada na página da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), www.agroecologia.org.br, articulação responsável pela realização do Encontro.
A Carta apresenta denúncias contra a violência e o autoritarismo do latifúndio e do agronegócio e de como o grande capital tem destruído os bens comuns, usando-os de forma predatória para a produção de commoditties. O documento evidencia ainda lutas e conquistas dos movimentos sociais, redes e organizações do campo e da cidade, além da diversidade das práticas agroecológicas. A carta foi aprovada na Plenária final do IV ENA, que também acolheu as diversas moções de repúdio e as cartas das mulheres, das juventudes, dos povos indígenas e quilombolas. As bandeiras feministas, contra a homofobia, contra o racismo, o machismo os diversos preconceitos foram levantadas e debatidas no IV ENA, porque se há machismo, homofobia, violência contra mulher, gays e lésbicas, não é agroecologia.
Ato Unificado – um ato unificado reuniu cerca de dez mil pessoas no Centro de Belo Horizonte no encerramento do IV ENA, no domingo 03/06, em defesa da democracia, da agroecologia, contra os retrocessos e perdas de direitos que acometem o país desde o impedimento da presidenta Dilma Rousseff. O ato foi unificado do 11º Congresso do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sindiuti/MG), do IV Encontro Nacional de Agroecologia (IV ENA) e do Quem Luta Educa. Após o ato aconteceu a passeata que saiu da Praça da Liberdade até o Parque Municipal de Belo Horizonte. No parque, um banquete agroecológico feito com produtos da agricultura familiar foi servido aos/as participantes. A população local também foi convidada a participar do banquete.
A presidenta da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Beatriz Cerqueira, ressaltou, durante o ato, a necessidade de dialogar com a população. “Queremos conversar com a população que nos escuta agora, para que saiba porque estamos na rua. Aqui tem gente do país inteiro e estamos na luta para defender nossos direitos e porque queremos uma sociedade e um outro Brasil diferente do que está aí”, afirmou Beatriz.
Alexandre Henrique Pires, da coordenação executiva da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), destaca a luta dos povos do campo, das florestas e das águas pela garantia de direitos e contra o agronegócio que mata e explora. “Estamos aqui no IV ENA na luta contra o golpe e contra o agronegócio. Contra a bancada ruralista que destrói as políticas públicas já conquistadas pela classe trabalhadora. E nesse movimento, também estamos juntos com os trabalhadores e as trabalhadoras da educação”, ressaltou ele.
Outros – Durante os quatro dias de atividades do IV Encontro Nacional de Agroecologia (IV ENA), agricultores/as familiares, camponeses/as, quilombolas, indígenas, pescadores/as, caatingueiros/as expuseram suas produções agrícolas e artesanais. Barracas com alimentos saudáveis, cervejas artesanais, produtos fitoterápicos, biojóias, sementes, diversos produtos beneficiados estiveram a disposição dos/as participantes do encontro e da população que visitou o Parque Municipal de Belo Horizonte.
*Com informações de Gilka Resende, Viviane Brochardt e Catarina de Angola
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