MTST lança novo episódio de ‘Nós por Elas’

Maria Aparecida Moura, paulista filha de nordestinos, casada há 33 anos e mãe de 4 filhos, conheceu o MTST por meio de seu marido. Ele conhecia e frequentava a Ocupação João Cândido, e sempre a convidava para que o acompanhasse.

Tia Cida, como é conhecida, resistia muito aos convites: o marido a chamava, e ela negava. Na época, trabalhava havia muitos anos em um restaurante da Vila Olímpia. Saía às 4 horas da manhã, e voltava para casa quase às 23 horas. Conta que era também muito tímida, quase não falava. Diz que se emocionava quando assistia alguma marcha do MTST, mas escondia sua emoção.

Um dia, após muita insistência, topou acompanhá-lo à ocupação Che Guevara, no Taboão da Serra. Combinou que o encontraria lá. Era um sábado. Mesmo sendo um dia de folga, era preciso cuidar da casa e organizar a vida.

Conta se lembrar até hoje daquele dia, pois nunca havia sido tão bem recebida: abraços, acolhimento, atenção, companheirismo. “A forma como me senti…não sentia essa sensação há muito”. Chovia bastante naquele dia – ela, de capa e guarda-chuva, notou a preocupação das companheiras do movimento, descalças na lama, em recebê-la: “Em vez de eu ter cuidado com elas, elas é que tinham comigo”.

“Isso tudo foi me encantando, e eu não queria mais ir embora. Passei a morar lá com meu marido. É difícil entender o que vou falar: no meu trabalho, na minha casa, eu não sabia o que era coletividade, o que era aceitar todo mundo junto, o que era dividir. Quando estamos trabalhando fora, no meu caso, em um restaurante, jamais um companheiro de trabalho ia beber a minha água. Lá [no MTST] não havia essa preocupação, esse medo de tomar a mesma água, o mesmo café que eu tomava. Foi lá que enxerguei o mundo diferente. Onde eu tinha visto isso antes? Essa preocupação de dividir o que é seu comigo? Na minha casa, no meu bairro, eu nunca tinha visto. Então foi lá dentro que aprendi que poderia falar, e eu era ouvida”.

Tia Cida tinha vontade de fazer trabalho voluntário no Haiti. Percebeu que era possível fazer trabalho voluntário perto de casa e dos filhos, poderia ajudar senhoras e crianças na mesma região onde morava. Conta também como a experiência na ocupação a fez relativizar sua própria situação: “Eu achava que sofria. Quando cheguei à ocupação, vi que eu não estava sofrendo. Sofrimento tem muitos companheiros que moram na rua, que não querem nem lutar para ter alguma coisa. Dentro da ocupação aprendi o que é ser coletivo, que muitos precisavam de mim, que eu era útil. Achava que só tinha de trabalhar e cuidar da casa e dos filhos. Na ocupação, aprendi que quando eu era maltratada em postos de saúde, hospitais…aprendi a falar, a me defender. Aprendi a não ser submissa, a não ter medo de falar”.

A primeira vez que tia Cida assistiu a uma peça de teatro, por exemplo, foi em uma ocupação. Para ela, o que dá mais saudade das ocupações são o calor humano e a escola que o MTST foi para ela. Lembra-se de uma companheira que aprendeu a ler e a escrever, da que se formou em matemática mesmo morando em ocupação e saindo cedo para trabalhar, retornando depois da meia-noite. Tia Cida estava lá, a esperava chegar tarde da noite para abrir a porta e fazer um café. São tantas histórias de gente que mudou de vida que, segundo ela, seria preciso mais uma semana só para contar essas histórias.


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