MST promove curso de comunicação popular em Curitiba

O ano de 2018 trouxe grandes desafios para a comunicação no Brasil: as redes sociais tiveram protagonismo inédito na campanha eleitoral e as notícias falsas ganharam a disputa de narrativas. Nesse contexto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizou o Curso de Comunicação Popular Ulisses Manaças, que acontece desde o dia 6 de novembro, no Centro de Formação e Cultura Marielle Vive, em Curitiba.

Segundo Welington Lenon, que faz parte do setor de Comunicação do MST do Paraná, a atual conjuntura demonstrou a necessidade de repensar a comunicação popular e os meios de produção e disseminação de informações voltadas para a classe trabalhadora.

“Esse curso não existia, porque ele tem um caráter diferente. É um curso de comunicação popular nos moldes dessa atualização que a gente vive hoje, tanto da internet quanto política, dessa conjuntura. Foi pensado de forma estratégica também fazer no espaço da Vigília [Lula Livre], que traz esse contexto de resistência”, explica.

Cerca de 40 militantes de diferentes movimentos e regiões participam da atividade. A programação envolve diariamente formação teórica – com debates de temas como oligopólio da mídia, disputa de hegemonia e comunicação e reforma agrária – e prática, com oficinas de fotografia, rádio e audiovisual.

O objetivo do curso é formar uma rede de comunicadores capacitados para pensar, produzir e disseminar os próprios conteúdos em suas regiões de atuação. Por isso, as oficinas são voltadas para práticas em equipamentos simples do cotidiano, como o celular.

Eduarda Souza é militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), na Bahia. Ela conta que atua no setor de comunicação do MAM desde 2017 e decidiu participar do curso para ampliar sua formação teórica em comunicação. No entanto, para ela, o curso tem sido importante também para compreender novas realidades brasileiras.

“Eu sempre tenho buscado entender o que é a comunicação popular, para poder ajudar no movimento, na Bahia, no Nordeste. Mas a questão de eu ser de outro estado e estar recebendo muita experiência dos militantes da região [sul], estar entendo um pouco da realidade daqui, é muito rica também para a questão de ligar o sul e o nordeste”, diz.

Disputa de hegemonia

O jornalista e professor de comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Elson Faxina, ministrou a aula sobre “a disputa da hegemonia e a comunicação”. A base da aula foi a teoria de dominação social formulada pelo filósofo italiano Antonio Gramsci.

Para Faxina, o momento atual, com a ascensão das redes sociais como principal meio de comunicação popular, é oportuno para criação de uma comunicação verdadeiramente democrática, contrária ao “monopólio e à visão de lucro da grande mídia”.

Porém, de acordo o professor, os movimentos de esquerda não deram a devida importância a esses novos meios de comunicação, deixando espaço para que a direita disseminasse sua narrativa.

“É fundamental que a gente tente se adiantar no tempo. Nós temos que entender que essa disputa pela hegemonia do pensamento está do nosso lado. A solidariedade é uma demanda humana, então nós temos que saber envolver mais gente nesse processo e para isso nós temos que fazer uso dos meios de comunicação”, afirma.

Ulisses Manaças

O Curso de Comunicação Popular homenageia o militante do MST Ulisses Manaças, que faleceu no dia 14 de agosto, em decorrência de um câncer. Manaças foi uma liderança histórica do movimento no Pará, que defendia a importância da comunicação popular para união da classe trabalhadora, seja no campo ou na cidade.

“Era um militante nosso que tinha muita relação com a rádio comunitária da periferia, mesmo sendo militante de uma organização do campo. Homenagear o Ulisses significa entender o papel que ele teve dentro dessa luta. Eu sou comunicador do campo, mas eu tenho que trocar ideia com o comunicador da periferia. É isso que vai fazer a diferença de unir a classe”, diz Welington Lenon.

O Curso de Comunicação Popular Ulisses Manaças vai até o dia 14 de novembro. As aulas são diárias, começam às 9h15 e vão até às 21h, com pausas para almoço, café da tarde e jantar.

Edição: Diego Sartorato


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