MAB relembra um ano e seis meses de crime da Vale no Rio Paraopeba
Todo o curso do rio Paraopeba foi contaminado pelo rejeito, atingindo 24 municípios. Até hoje 11 mortos ainda não foram encontrados
Neste sábado, 25 de julho de 2020, um ano e seis meses depois do rompimento do complexo de barragens da Vale em Brumadinho, os atingidos pelo maior crime sócio-ambiental e trabalhista do país vivem em meio a pandemia, à crise econômica e de saúde pública do país, agravando a sensação de dor e desamparo que se iniciou naquele 25 de janeiro de 2019: sem água, trabalho, renda, lazer, sem saúde, com problemas respiratórios provocados pela poeira da lama de rejeitos, problemas psicológicos causados pela morte dos vizinhos, parentes, pais e filhos. Além da morte do rio que lhes entregava vida, e sob a sombra da impunidade, injustiça e falta de reparação pelos direitos violados.
Foi às 12h:28min daquele dia que três barragens se romperam. Pelo relato da população não foi acionada a sirene. A lama elevou em 18 metros o nível médio de rejeito e destruiu o refeitório e uma unidade administrativa da Vale, restaurantes e uma pousada, matando 272 pessoas, das quais 11 ainda estão desaparecidas.
A lama foi levando tudo: vidas, casas, plantações, áreas de Mata Atlântica foram soterradas. No Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira, o rejeito varreu a borda dos bairros, levando em torno de 50 casas e plantações inteiras. Um pré-diagnóstico mostra que o abastecimento de água de 19 municípios da bacia do rio Paraopeba e parte da região metropolitana de BH estariam comprometidos.
A saúde dos atingidos da bacia do Paraopeba já deteriorada, têm se agravado a cada dia pelo crime. O choque, o terror, a violência das 272 mortes, a angústia das buscas pelas vítimas e a destruição de sonhos e projetos fizeram aumentar o consumo de calmantes e ansiolíticos, logo nos primeiros meses. A Vale não se importa com as vítimas. A negação aos direitos e a criminalização das lutas foram adoecendo as pessoas, agravando ainda mais a situação dos que convivem com o rio contaminado, sem poder pescar, plantar, nem ter acesso ao lazer como antes.
Perdas e danos ocasionadas pelo crime da Vale apresentam tamanha complexidade e se espalham por todo território da bacia. A lama de rejeitos de minério percorreu toda extensão do rio até a represa de Retiro Baixo, desequilibrando a dinâmica econômica, social, cultural e ambiental dos territórios. Os problemas de saúde, a contaminação do rio, a desvalorização dos imóveis e a inviabilidade comercial dos produtos da agricultura estão entre tantos outros ocasionados. Durante 1 ano e 6 meses a população atingida vê o agravamento dessa situação sem ter da Vale respostas efetivas para a resolução dos problemas. A condição de pobreza se agrava com a perda de renda de um povo que nasceu tendo a pesca como fonte de subsistência.
O auxílio foi reduzido em 50% para a maioria dos atingidos em fevereiro deste ano representou um imenso retrocesso e deixou os atingidos ainda mais vulneráveis, levando muitos atingidos a se mudarem para outras municípios para poder reestabelecer suas fontes de renda.
Mas a dimensão do crime é equivalente a indignação e a força do povo que se organiza e luta por justiça.
A garantia do auxílio emergencial para os atingidos de Brumadinho e que moram no raio de 1km do rio Paraopeba desde o início do processo foi uma importante conquista para a reparação integral. Mesmo assim, muitos atingidos que dependiam do rio e moram para além dessa faixa ficaram de fora, assim como os atingidos que moram nos municípios entorno da Lagoa Três Marias.
A organização resultou em conquistas importantes na área da saúde, como a contratação de profissionais para atuar no SUS pelas prefeituras, o fornecimento de água mineral e potável, e ração para os animais.
O momento atual se configura na entrada da assessoria técnica em campo que irá construir a matriz emergencial, que, dentre a identificação dos danos emergenciais, apresentará os novos critérios para a continuidade do auxílio.
Apesar dessas importantes vitórias, tal como das conquistas nos âmbitos trabalhistas e criminais, denunciamos que ainda há diversas violações de direitos realizadas pela Vale em campo, na continua estratégia de negar a dimensão do crime. Os atingidos organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) seguem em luta por direitos e por justiça, em busca da reestruturação dos modos de vida.
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