Luta pela democratização da mídia é legado deixado por Mario Augusto Jakobskind

Jornalista recebeu homenagem póstuma no Rio de Janeiro; Mario participou ativamente da construção do Brasil de Fato
Jaqueline Deister

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ)

 

Brasil de Fato concedeu um prêmio póstumo ao jornalista Mario Augusto Jakobskind na noite desta quarta-feira (30) e realizou o debate “Comunicação Popular na Atualidade”, no Armazém do Campo no Rio de Janeiro. Mario Augusto teve papel crucial na construção do jornal desde a sua fundação em 2003. A homenagem foi entregue a viúva de Mário, Elza Neves Moraes, que agradeceu o prêmio.

“Lembrar do Mario em relação a democratização da mídia é fundamental. Sou testemunha que essa sempre foi a grande luta dele. Conseguimos criar o Brasil de Fato que é distribuído e lido nos subúrbios. O Brasil de Fato tenta sair da bolha, isso que é importante. Temos que sempre preservar a memória daqueles que sempre lutaram. Acho que o Mario, onde estiver, deve estar muito feliz com essa homenagem”, disse Elza.

Joaquin Piñero, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), lembrou das qualidades de Mário. “Uma das qualidades do Mario era o entusiasmo que fez com que acreditássemos na qualidade do trabalho do Brasil de Fato. Ele conseguia fazer com que a nossa vontade se multiplicasse cada vez mais. Ele também deixa o sentimento de latino-americanismo. Ele se preocupava que nós nos reconhecessemos enquanto latino-americanos”, afirmou Piñero.

O evento contou com a participação de Mariana Pitasse, editora-chefe do Brasil de Fato do Rio de Janeiro e de Franklin Martins, jornalista e ex-ministro da secretaria da Comunicação Social do governo Lula.

Debate

Mariana abriu a palestra contando sobre a participação de Mário no conselho político e editorial do Brasil de Fato desde 2003. Ela lembrou também da trajetória do jornalista morto em quatro de outubro do ano passado. Ao longo da carreira, Mário passou pela redação de diversos jornais e agências de notícias, como a France Presse, em que foi redator, a Folha de S. Paulo, do qual foi repórter da sucursal do Rio de Janeiro, e a Tribuna da Imprensa, na qual trabalhou como editor de internacional. Chegou a colaborar ainda com o Pasquim, jornal referência da resistência à Ditadura Militar.

Já Franklin Martins iniciou fazendo uma análise de conjuntura do atual momento político do país. Segundo o ex-ministro, não há unidade no governo Bolsonaro e isso é importante, pois ajuda a mobilizar o povo brasileiro. “O brasileiro aprendeu que quando o lado de lá está todo unido e compacto, nós somos aniquilados. Foi assim em Palmares [quilombo] e Canudos [guerra]. A acumulação de forças é mais lenta porque o Brasil é muito grande”, destacou o  jornalista lembrando que a sua geração viveu o golpe de 64 e que a reação do povo levou quatro anos.

Para Martins, ocorrerão protestos contra o atual governo, mas de forma lenta. Para ele, nos últimos três meses a população começou a reagir as políticas neoliberais, mas, o ex-ministro sinaliza que o campo progressista precisa realizar diálogos mais intensos, um exemplo é o caso de Ciro Gomes (PDT).

Oligopólio da mídia

O jornalista classificou que Globo e Bolsonaro estão em disputa de poder. Na avaliação dele, a Globo foi longe demais na denúncia, pois não havia provas substanciais contra o presidente da República. Ele analisa também que não houve avanço no campo da democratização da comunicação no governo petista.

“O governo da Dilma não tocou para frente o debate sobre regulamentação da mídia. O oligopólio está naturalizado no Brasil. As pessoas acham que o espaço é da Globo. A pauta é complexa e o povo tem dificuldade de entender o que está em jogo”, afirmou destacando que não existe jornal de ampla circulação progressista no Brasil.


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