Jornada de Lutas denuncia crimes ambientais de Mariana e Brumadinho
Desde novembro de 2016 o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) realiza a Jornada de Lutas como forma de denunciar o crime ambiental cometido pelas mineradoras Vale, Samarco e BHP Billiton por meio do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana/MG. Em 2019, soma-se à Jornada de Lutas a denúncia em relação ao rompimento da barragem de rejeitos de minério da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, também no estado mineiro, em janeiro deste ano.
“Além de denunciar os dois crimes, queremos mostrar que a situação dos atingidos de Mariana não foi resolvida. Se muitas pessoas já esqueceram de Brumadinho, quanto mais de Mariana, que aconteceu há quatro anos. É uma possibilidade de dialogarmos de maneira mais ampla com quem não foi diretamente atingido”, diz o integrante da coordenação estadual do MAB, Heider Boza.
Diferentemente das anteriores, a quarta edição da Jornada de Lutas começa em outubro, e não em novembro. “A jornada vai acontecer nos meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro. São quatro meses, representando os quatro anos do rompimento da barragem de Fundão. Termina em janeiro por ser quando completa um ano do rompimento em Brumadinho”, diz Heider Boza.
Em outubro acontecerá, nos dias 3, 4, 5 e 10, audiências públicas realizadas pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, presidida pelo deputado federal capixaba Helder Salomão. Elas serão nos municípios de Aracruz, Baixo Guandu, Linhares e São Mateus. De acordo com Heider, a comissão irá colher depoimentos para fazer um relatório e propor ações às empresas envolvidas no crime ambiental e à Fundação Renova. O relatório será apresentado no dia seis de novembro, em Brasília.
A Jornada de Lutas abrange atividades a serem desenvolvidas no Espírito Santo e em Minas Gerais. No dia 25 de outubro, em Belo Horizonte, haverá um ato do Dia de Luta pela Estatização da Vale. Ele será seguido pelo Encontro de Mulheres Atingidas. Também em Minas, mais precisamente em Mariana, acontecerá o encontro dos atingidos, nos dias 3, 4 e 5 de novembro.
Em dezembro haverá, em Minas Gerais, atividades em preparação para o dia 25 de janeiro. Nessa data uma caravana formada por pessoas do Brasil e do exterior sai de Mariana rumo a Brumadinho em caráter de denúncia internacional em relação aos desastres ocorridos por causa de rompimento de barragens.
Sem solução
É também no dia 5 de novembro que uma casa será inaugurada no distrito mineiro de Gesteira. Ela será construída por meio de um mutirão. A habitação será erguida em uma área onde deveria ser feito um reassentamento que ainda não saiu do papel e entregue a uma família escolhida pela comunidade.
“A Fundação Renova deveria ter feito quatro reassentamentos em Barra Longa por causa de quatro comunidades que foram completamente destruídas com o rompimento da barragem de Fundão. Mas ainda não fez. A construção da casa é um gesto simbólico para denunciar a Fundação Renova e que está ligado ao lema da jornada deste ano, que é ‘A Vale destrói, o povo constrói’”, explica Heider.
Outra das muitas situações que ainda não foram resolvidas é a indenização dos camaroeiros. De acordo com Heider, ainda não foi fechado acordo com esses trabalhadores. “O acordo era para ter sido fechado em outubro do ano passado. Já temos os nomes das pessoas a serem indenizadas. O Ministério Público, a Defensoria Pública, o MAB e os pescadores atuaram em conjunto para fazer um documento de autodeclaração dessas pessoas, afirmando que exercem o ofício e que foram prejudicadas com o rompimento da barragem de Fundão”, destaca Heider.
De acordo com ele, esses trabalhadores pescavam na foz do Rio Doce, onde não podem mais pescar por causa da contaminação. Assim, passaram a ter que se deslocar para outro lugar para trabalhar, local este onde não conseguem a mesma quantidade de mariscos que antes.
Saúde
Uma das atividades que fazem parte da programação da Jornada de Lutas é a Feira Estadual da Saúde dos Atingidos, a ser realizada no dia 15 de novembro, em Baixo Guandu. “É um tema que vem a tona, pois muitas pessoas relatam problemas de saúde. Alguns são psicológicos, por causa da perda de emprego, moradia, entes queridos. Outros são problemas de pele, queda de cabelo, por exemplo”, diz Heider.
De acordo com o coordenado do MAB, há estudos que comprovam a presença de metais pesados na água, por exemplo, como uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Fonte: Século Diário