Diário: 5 de fevereiro – Quinto Ato Contra a Tarifa do MPL

Foto: Rogério de Sanctis

Por Gavin Adams/Outras Palavras – Saí da estação Sé do metrô para o Quinto Ato do MPL contra o aumento da tarifa e contra a redução das linhas. Eram quase 17h:30 e saí pela praça. O fim de dia estava fresco e seco, mas cinzento. A Babilônia em pleno caos funcional, com os trabalhadores buscando as rotas de fuga para as periferias.

Subi a rua Direita e cheguei na praça do Patriarca. Em cima do bulício da cidade, um grande aparato policial. Dei um giro até o Teatro Municipal e avaliei a presença da tropa.

No geral achei que eles têm uma cota fixa para o MPL este ano. Parece que o contingente é o mesmo, com muita repetição de soldados e oficiais. Contei uns 120 “verdinhos” ao longo do Viaduto, uns 50 GCMs (incluindo a tal Guarda Ambiental), outros 30 cinzentos, o CAEP com seus escudos (uns 40) e atiradores, mais umas 50 motocicletas. Vi a van marcada “Olho de Águia”, que parece que é o sistema de captura e reconhecimento facial (tipo aquele programa chinês que o PSL foi buscar na China).

Os GCMs protegiam a prefeitura gradeada e não seguiram com o povo em passeata. Mas todo o resto sim, incluindo pelo menos 15 viaturas que piscavam.

Em frente da prefeitura, a galera do MPL. A Fanfarra estava lá, o que faz toda a diferença. Com seu swing e seu calor, é lindo percorrer as ruas da cidade, mesmo roçando o escudo de um PM mau humorado.

Tinha pouco manifestantes: contei uns 150 ao todo. Eram jovens de 20 a 25, na maior parte.

Logo vi E, o fotógrafo R e depois o L.

Vi bandeiras do POR4 e da Vanguarda Socialista. Vi o cartaz “Eles lucram com nosso sufoco”. As faixas de abertura e fechamento: “R4,30 não” e “Por uma vida sem catracas”. Os pirulitos de papelão traziam “Ei Covas, vai pegar busão”.

Os sinos da igreja do Patriarca tinham acabado de badalar quando a moça do MPL celebrou o matrimônio de Bruno Covas com a Catraca. Vestia um blazer claro e empunhava um megafone. Chamou a Catraca de “a menina de nossos bolsos” e perguntou a Covas (um moço com máscara de papel) se “jurava defender a Catraca com policiais e violência”. Ela afirmou que essa união “é celebrada todos os dias quando giramos a catraca”, com “os fortíssimos abraços que recebemos de corpos no transporte público”.

Anotei as camisetas “Bucetas ingovernáveis”, “EZLN”, “Passe Livre” e “Sem ideia com fascista”. Recebi um panfleto do POR4 criticando a condução da campanha pelo MPL. Basicamente dizia que o que faltava era abertura de pautas para além da tarifa. Cobrou maior adesão à greve dos metroviários e dos funcionários municipais.

O povo se posicionou para sair, com a faixas de frente e de trás. Também as PMs se prepararam para seguir.

“Estamos aqui em frente a prefeitura para o Quito Ato contra o aumento da Tarifa”, “não vamos aceitar pagar mais para circular menos”.

Saímos pela rua Líbero Badaró em direção ao Largo São Francisco. Passamos em frente à Secretaria de Segurança Pública, onde o povo cantou “Fora Ditadória!”, “Ei, Dória, vai tomar no cu”, respondido por “Ei, Dória, vai tomar polícia, pois no cu, eu garanto, é uma delícia!”

Já no Largo, o povo cantou “Dória, que vergonha, a tarifa está mais cara que a maconha!”. Uns cinco moços da rua, sentados num banco triste, vibraram com a molecagem.

Deu para ver que a PM conseguia envelopar a passeata totalmente, por todos os lados. De fora, era difícil entrar, e de dentro era difícil sair. Apesar de ser menos acintosa do que na última passeata, a coluna dos verdinhos pressionavam o povo e a faixa de frente. O aparato todo estava no modo intimidatório e continuou assim até o final.

“Vem, vem, vem pra rua, vem, contra a tarifa!”.

“Tarifa Zero quando? Tarifa Zero já! A coisa vai mudar, só quando o povo controlar!”

Subíamos a rua Benjamin Constant e o eco embalava a moçada. Os PMs seguiram pela calçada, mas esta estava cheia do povo da rua, já se recolhendo a seus abrigos improvisados. Um cachorro deles não parou de latir. Eram 18h:30.

Dobramos à direita na Praça da Sé e subimos até a praça João Mendes. Seguimos pela avenida Liberdade. Apesar do aperto e da desproporção entre o número de manifestantes e da repressão, havia certo relaxamento. Ouvi um policial da coluna que nos ladeava dizer a outro, apontando um boteco da rua: “Aqui outro dia gastei mais de 100 reais!”.

No começo da avenida, reparei num anúncio da Kidzania, onde um menino, vestido de piloto comercial, batia uma alegre continência. Uma menina vestida de cozinheira completava o quadro.

No caminho que incluiu o Largo da Liberdade e adiante, passamos por várias universidades e faculdades (FECAP, FMU, UNIP). O povo chamou muito os estudantes nas calçadas, mas ninguém parecia se animar. Até porque entrar na manifestação seria difícil, cercados que estávamos. No geral as pessoas na calçada não fizeram festa, mas pelo menos não fecharam a cara. Filmaram com seus celulares.

“Tarifa não é esmola, o filho do prefeito vai de uber pra escola!”

Chegou um helicóptero e ficou um pouco acima de nós.

Subimos até a avenida Liberdade virar a Vergueiro, e a PM protegi pesadamente as estações do metrô, com atiradores acintosamente posicionados.

“Acabou a paz, mexeu com a tarifa mexeu com Satanás!”

“Pula a catraca, passa por baixo, entra por trás!”

Passamos pelo Centro Cultural São Paulo, este também pesadamente guardado. À nossa esquerda, um edifício chamado “Mario Covas”. O povo não perdoou e cantou “Ei, Covas, vai tomar busão!”.

Chegamos ao Centro de Controle Operacional do Metrô. Todo o aparato repressivo estava lá, e acabaram por fechar a avenida pela frente e por trás. Atiradores a postos.

Fizemos um jogral. Declararam apoio aos metroviários e afirmaram que “a rua é nossa”.

Chegou a hora do “Fogo na Catraca”, e um bafo quente irradiou da bola de fogo que se ergueu no asfalto. O povo celebrou, os fotógrafos fizeram suas imagens e os moços e moças pularam a catraca qual festivo São João deslocado para a luta.

O ato oficialmente estava encerrado, mas o perímetro estava todo fechado pela polícia. A PM faz isso para intimidar e forçar nova negociação de saída. O moço do MPL que estava em contato com os “mediadores” pediu que a força policial abrisse e dispersasse também, de modo que todos pudessem ir saindo. O que aconteceu, meio devagar: recolheram a faixa, alguns foram saindo. A PM ainda foi pressionar a fanfarra para que parassem de tocar.

Fui achar meu caminho e não fui checar o metrô. Mais tarde, vi uma nota do MPL onde diziam que:

“Na frente da estação São Joaquim um policial mascarado espirrou gás de pimenta na população que se animava com o ato, chegando a revistar arbitrariamente uma pessoa. ABSURDO! Chegando ao destino final, os manifestantes, simbolicamente, queimaram uma catraca. No metrô, fizemos um lindo catracaço, com apoio de toda a população, pra mostrar que a luta continua até o fim de todas as catracas!

Convidamos todos e todas a continuar na luta por Tarifa Zero e por um transporte controlado por quem usa e o faz funcionar.”

Ao final, escrevendo esta linhas, meditei sobre o número de corpos hoje. Talvez seja o MPL que produza seu próprio isolamento, talvez seja o Brasil em geral que ainda não está dando crédito para protestos, ou talvez seja o formato protesto de rua que está esgotado. Não sei diagnosticar, e parece que estamos ainda na fase de apontar o dedo para o colega ao lado. Parece que tem a ver com interpretar os eventos e legado de 2013, incluindo suas táticas.

Hoje ferve nas redes uma celeuma do PCdoB contra o PSOL e PT. Não compreendi direito as minúcias, mas tem a ver com cláusula de barreira e formação de bloco de oposição parlamentar. Há intensa troca de acusações entre os partidos de esquerda.

Temos um longo caminho pela frente.

Acabei de escrever e fui para casa.

Chegamos ao Centro de Controle Operacional do Metrô. Todo o aparato repressivo estava lá, e acabaram por fechar a avenida pela frente e por trás. Atiradores a postos.

Fizemos um jogral. Declararam apoio aos metroviários e afirmaram que “a rua é nossa”.

Chegou a hora do “Fogo na Catraca”, e um bafo quente irradiou da bola de fogo que se ergueu no asfalto. O povo celebrou, os fotógrafos fizeram suas imagens e os moços e moças pularam a catraca qual festivo São João deslocado para a luta.

O ato oficialmente estava encerrado, mas o perímetro estava todo fechado pela polícia. A PM faz isso para intimidar e forçar nova negociação de saída. O moço do MPL que estava em contato com os “mediadores” pediu que a força policial abrisse e dispersasse também, de modo que todos pudessem ir saindo. O que aconteceu, meio devagar: recolheram a faixa, alguns foram saindo. A PM ainda foi pressionar a fanfarra para que parassem de tocar.

Fui achar meu caminho e não fui checar o metrô. Mais tarde, vi uma nota do MPL onde diziam que:

“Na frente da estação São Joaquim um policial mascarado espirrou gás de pimenta na população que se animava com o ato, chegando a revistar arbitrariamente uma pessoa. ABSURDO! Chegando ao destino final, os manifestantes, simbolicamente, queimaram uma catraca. No metrô, fizemos um lindo catracaço, com apoio de toda a população, pra mostrar que a luta continua até o fim de todas as catracas!

Convidamos todos e todas a continuar na luta por Tarifa Zero e por um transporte controlado por quem usa e o faz funcionar.”

Ao final, escrevendo esta linhas, meditei sobre o número de corpos hoje. Talvez seja o MPL que produza seu próprio isolamento, talvez seja o Brasil em geral que ainda não está dando crédito para protestos, ou talvez seja o formato protesto de rua que está esgotado. Não sei diagnosticar, e parece que estamos ainda na fase de apontar o dedo para o colega ao lado. Parece que tem a ver com interpretar os eventos e legado de 2013, incluindo suas táticas.

Hoje ferve nas redes uma celeuma do PCdoB contra o PSOL e PT. Não compreendi direito as minúcias, mas tem a ver com cláusula de barreira e formação de bloco de oposição parlamentar. Há intensa troca de acusações entre os partidos de esquerda.

Temos um longo caminho pela frente.

Acabei de escrever e fui para casa.

Imagens: Rogério de Sanctis

Fonte: https://outraspalavras.net/movimentoserebeldias/o-ultimo-ato-contra-aumento-da-tarifa.


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