Audálio Dantas, um grande brasileiro
Texto Oboré
Audálio Dantas e o quadro de Herzog no auditório do Sindicato: histórias cruzadas e luta contra a ditadura. Foto: Cadu Bazilevski/SJSP
O jornalista Audálio Dantas, 88 anos, faleceu na tarde desta quarta-feira (30/05) no Hospital Premier, em São Paulo, onde estava internado desde abril deste ano, vítima de complicações devido a um câncer de intestino.
Dantas completaria 89 anos no próximo dia 8 de julho. Deixa esposa e quatro filhos.
O velório está sendo realizado nesta quinta-feira (31/05), das 12h às 20h, no Espaço Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, na Rua Rego Freitas, 530 – sobreloja.
O maestro Martinho Lutero junto com o Coro Luther King apresentará um concerto de despedida às 19:30. Em seguida o corpo seguirá para o crematório da Vila Alpina, onde ocorrerá a cerimônia de despedida às 11h de sexta-feira, 01/06.
Nascido em Tanque D’arca, em 8 de julho de 1929, Audálio Ferreira Dantas veio para São Paulo ainda menino – uma primeira vez com os pais, aos cinco anos, e depois aos 12, para encontrar-se com a mãe.
Autodidata, Audálio Dantas foi jornalista de profissão. Sua história como repórter começou quando ele trabalhava em um laboratório de fotografia na Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo), revelando fotos do italiano Luigi Mamprin, em 1954. Aos poucos ele começou a acompanhar repórteres nas ruas fazendo as legendas das próprias fotos e, posteriormente, escrevendo reportagens sobre temas do cotidiano.
Certa vez, em 1956, foi escalado para viajar até Paulo Afonso, na Bahia, onde deveria escrever sobre a inauguração da nova hidrelétrica do São Francisco. Voltou de lá não apenas com a reportagem sobre o impacto econômico da nova construção como também com quase dez outros textos e fotos sobre assuntos apurados no local.
Seu espírito compartilhador se revela em suas produções jornalísticas. Foi com a ajuda do repórter que a escritora e poetisa Carolina Maria de Jesus tornou-se conhecida. Audálio organizou os escritos da moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Essa reportagem é a que ele considerava a mais importante de sua vida.
Audálio passou por quase todos os principais veículos de jornalismo de sua época, como O Cruzeiro, revista Quatro Rodas e VejaSP. Também produziu uma série de reportagens sobre Canudos (BA), que estava fadada a desaparecer com a represa do rio Vaza-Barris.
Em 1975, quando exercia o cargo de presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), foi peça chave na denúncia do assassinato brutal de Vladimir Herzog, seu colega de profissão. O ato ecumênico ocorrido na catedral da Sé em 31 de outubro de 1975 foi fundamental no caminho de redemocratização do país.
Ele também foi presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o primeiro eleito por voto direto.
Além do jornalismo, Dantas foi escritor e leitor ávido de grandes nomes da literatura brasileira, como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Graciliano Ramos.
Foi também deputado federal em 1978, considerado um dos mais influentes do país. Recebeu o prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU e, em 2013, foi presidente da Comissão Nacional da Memória, Justiça e Verdade dos Jornalistas Brasileiros.
Em 2008, recebeu o título de Cidadão Paulistano pela Câmara Municipal de São Paulo. Foi agraciado com o prêmio Intelectual do Ano (Troféu Juca Pato) em 2013 e vencedor do Prêmio Jabuti de 2016. No ano passado foi homenageado com o Prêmio Averroes – Pioneiro e Compartilhador, dedicado a valorizar a trajetória e pioneirismo de grandes personalidades brasileiras.
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